Imaginários de trabalho: Vargas e o discurso político endereçado aos trabalhadores brasileiros (1943)
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.10278525Resumo
A partir dos princípios da teoria materialista dos processos discursivos, o presente trabalho constrói-se sobre o objetivo geral de analisar as representações imaginárias sobre o trabalho no discurso governamental e, em decorrência dessas, suas inter-relações com outras, as de trabalhador. Em recorte, dedicamos nosso gesto de leitura ao Pronunciamento de 1º de maio de 1943 de Getúlio Vargas endereçado aos trabalhadores brasileiros. Às análises, apreendemos como regularidade o funcionamento de três imaginários de trabalho na ordem do discurso do governante, o de trabalho como força-motriz para consolidar o Estado, o de trabalho como meio de dignificação do trabalhador frente ao Estado e frente ao governante e o de trabalho como base para a edificação do bem-estar da sociedade. Imagens que recalcam a luta de classes e negam ideologias dissidentes em prol da “coesão nacional” e do “bem comum”. Em seu funcionamento, algumas marcas enunciativas são regulares, como a dêixis articulada à designação. Ao serem tomadas como pistas discursivas, assumem a ordem de semblante de reversibilidade em um discurso que, pela evidência, mostra-se aberto ao outro, mas, em última instância, faz uso deste fetiche para injungir a esse mesmo outro os imaginários que (re)produz.
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