Da fala para a escrita

a memória do rap nacional brasileiro como efeito de resistência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.11361661
Palavras-chave: Discurso, Rap nacional, Resistência

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar os efeitos de resistência que emergem de três canções do rap nacional brasileiro:  Pânico na Zona Sul (1989), dos Racionais MC’s, Cidadão Comum Refém (2002), de Mv Bill e Favela Vive 4 (2020), de ADL. De maneira mais específica, buscamos compreender como as letras dessas músicas contribuem não só com a popularização da cultura brasileira, mas também constituem-se como espaços de resistência e denúncia de grupos minoritários colocados “à margem” por uma parcela da sociedade, uma vez que se tratam de ambientes que ratificam os espaços de dominância impregnados pelo social e que são visualmente representados por estigmas negativos (“pobres”, “favelados”, entre outros), atribuições feitas sobretudo à comunidade negra. A escolha do material é constituída por três canções de três décadas distintas, ambas com certas regularidades que representam a atual configuração da realidade social do Brasil. Nesse caminho, analisamos os recortes para além de seu gênero musical, bastante conhecido, os observando como um instrumento de resistência corporificado pelas estrofes e pela fala que corroboram, assim, para a denúncia da segregação dessa comunidade. Por meio da análise de discurso francesa, buscamos compreender o rap como um acontecimento discursivo que ressignifica toda memória de resistência dos negros e dos mais pobres nas diferentes esferas brasileiras e que os colocam, também, em um espaço de ressignificação importante e necessário.

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Biografia do Autor

Ana Luiza de Sousa Bandeira, Universidade Federal de Goiás - UFG

Licenciada em Letras: Português pela Universidade Federal de Goiás - UFG

Marco Antonio Almeida Ruiz, Universidade Federal de Goiás - UFG

Doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e em Sociologia pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHESS). Realizou estágio de pós-doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). É professor adjunto da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás.

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Publicado em

4 de junho de 2024

Como Citar

BANDEIRA, A. L. de S.; ALMEIDA RUIZ, M. A. Da fala para a escrita: a memória do rap nacional brasileiro como efeito de resistência. Revista Letras Raras, Campina Grande, v. 13, n. 2, p. e2196, 2024. DOI: 10.5281/zenodo.11361661. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/2196. Acesso em: 22 dez. 2024.

Seção

n. 2 - 2024 - Dossiê: Língua falada e/ou escrita? Reflexões sobre aquisição e o ensino de língua portuguesa em uma perspectiva decolonial