Os (meta)enunciados e o processo de construção dos sentidos no livro didático de português
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.8302361Resumo
O livro didático (LD), influenciado pelo desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, passou por significativas transformações. Entre elas, a complexificação de suas páginas, com interface que remete às páginas da web, que passou a caracterizar os seus mais recentes layouts. Ou seja, as páginas dos livros didáticos apresentam, nos formatos mais recentes, uma mancha de página com diferentes espaços, ou subespaços, que materializam diferentes enunciados, em forma de mosaico. Tem-se, assim, conforme Barros (2004), a presença de planos enunciativos específicos que se voltam sobre planos enunciativos gerais. Ou seja, metaenunciados que se voltam sobre o objeto de ensino para explicá-lo, exemplificá-lo, para dialogar com os enunciados centrais nas unidades, capítulos ou seções. Por esse motivo, objetivamos analisar como os enunciados ditos “auxiliares”, perigráficos, se voltam sobre os enunciados ditos principais, que, por sua vez, materializam os objetos de ensino da disciplina, e quais efeitos desencadeiam. Como resultado de tal questionamento, tem-se que, ao se voltar para o que é posto como central na página do livro didático, os metaenunciados desempenham papel fundamental na construção dos sentidos, considerando que o tópico ensinado depende dos demais enunciados que o rodeiam para possibilitar leitura e compreensão melhor aprofundada ao aluno/leitor. Para desenvolver as análises e discussões propostas no artigo, o caminho teórico e analítico alinha-se aos estudos metaenunciativos (AUTHIER-REVUZ, 1998; 2004; BARROS, 2004), às investigações sobre livro didático (BARROS, 2020; OLIVEIRA, 2021), bem como às pesquisas sobre projeto gráfico visual (SILVA, 1985).
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Referências
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