A configuração teórica da produção textual na Base Nacional Comum Curricular: um olhar para a Transposição Didática
Resumo
DOI: https://dx.doi.org/10.35572/rlr.v9i2.1555
O debate acerca de um currículo nacional comum tem gerado discussão entre os atores da esfera educacional, visto
que a construção de uma proposta curricular dessa natureza parece ser o objeto em torno qual várias políticas
educacionais orbitam. Nesse contexto, surge a Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2018), cujo objetivo central
é definir as aprendizagens essenciais às quais todos os alunos devem ter acesso na Educação Básica. Levando em
consideração a área de Linguagens e a disciplina de Língua Portuguesa, podemos perceber que (re)configurações
teóricas foram realizadas durante a elaboração desse documento, portanto, merecem ser elucidadas, sobretudo se
considerarmos o professor, leitor-alvo da BNCC. Assim sendo, este artigo tem como foco apresentar a (des)montagem
(LE GOFF, 1997) da versão homologada da BNCC relativa ao nível de ensino médio, propondo uma análise de verbetes relacionados ao eixo produção textual, a partir de pesquisa documental, de base qualitativo-interpretativista e situada no campo aplicado dos estudos da linguagem. Para tal investigação, apoiamo-nos na teoria da Transposição Didática, Chevallard (2001), Marandino (2004); na Linguística Textual, Brait (2016), Koch (1997); e nos Estudos sobre Currículo, Silva (2005), Macedo (2012), entre outras fontes bibliográficas. Os resultados apontam para uma expressiva heterogeneidade terminológica voltada à produção textual, revelando uma filiação grafocêntrica, mas também multissemiótica, do objeto investigado. Ademais, o termo produção textual apresenta imprecisão conceitual em sua reconfiguração, gerando sobreposição de objetos e ambiguidade de leitura na BNCC.
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