Quem pode ser um universitário? Uma análise discursiva da representação imaginária sobre alunos de escolas públicas e privadas
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.10436265Resumo
No Brasil, a educação pública é comumente estigmatizada como precária e insuficiente, ao passo que a educação privada é vista como provedora de um “ensino de qualidade”. Discursivamente, interessa-nos como esse efeito de evidência se manifesta nos discursos sobre escola, naturalizando-os. Conforme Pêcheux (1995), as palavras mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam, os sentidos são determinados pela inscrição do sujeito em determinada Formação Discursiva (FD). Selecionamos, então, alguns discursos acerca dos estudantes de escolas públicas e particulares, a partir de duas reportagens similares, mas que publicam diferentes discursos sobre a aprovação no vestibular. Com base na Análise de Discurso Pecheuxtiana (AD), percebemos que essas matérias mostram um contraste que vai além do âmbito escolar, ainda que este seja um reflexo do primeiro: o econômico. Muitos acreditam que cursar uma universidade é para poucos, aqueles oriundos de escolas particulares que têm melhores condições financeiras. Nas análises, demonstramos como discursos sobre escola pública e privada identificam-se com saberes da classe dominante e alinham-se ao sistema capitalista. Enquanto Aparelho Ideológico de Estado, a escola representa o lugar em que a ideologia se realiza, pela contradição, desigualdade e subordinação, conforme Althusser (1985). Assim, sujeito e sentido se constituem como evidentes enquanto efeito da interpelação ideológica, materializada a partir de suas filiações a determinadas FDs, daí a necessidade de gestos de interpretação dos discursos sobre lugares sociais preestabelecidos, para compreendermos que é possível fazer resistência frente a condições que se mostram desiguais e excludentes.
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