O Realismo em sala de aula e o chapéu de Charles Bovary

Résumé

Este artigo tem como objetivo mostrar como a experiência em sala de aula (a interação com os estudantes e suas reações aos textos literários) pode se revelar um espaço frutuoso para a redação e realização de projetos de pesquisa. Neste caso, apresentamos como uma aula sobre Flaubert desencadeou - além de perguntas muito interessantes - uma investigação com muitas ramificações conceituais. Neste texto, explicamos também alguns elementos-chave para a redação da proposta e a delimitação do corpus do mesmo (textos escritos entre 1836 e 1972). Neste recorte, identificamos, selecionamos e discutimos matérias literárias que apresentem “descrições minuciosas de realidades parciais” (Perrone-Moisés, 2016, p. 89), capazes de produzir o “efeito de real” bartesiano (1984) ou outros resultados. Sem negligenciar a importância do texto literário, sempre utilizamos fragmentos de obras ficcionais nas discussões sobre os procedimentos de narração, as noções de realismos e, principalmente, sobre a relação entre a descrição na narrativa - tema essencial na discussão realista - e a autonomia do campo literário (Bourdieu, 1991).