O teatro do absurdo e a crise da filosofia burguesa em foco
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.16734592Palabras clave:
Teatro do absurdo, Samuel Beckett, Eugène Ionesco, Irracionalismo, Aimé CésaireResumen
O teatro do absurdo se configura como uma das tendências artísticas de vanguarda, condicionadas pelo cenário político do pós-Segunda Guerra Mundial na Europa. Segundo o senso-comum dos estudos literários, o absurdo é amplamente marcado por um caráter transgressor, que questiona o racionalismo dito europeu, a partir do qual poderíamos retraçar as origens do irracionalismo nazifascista, algo que certas obras pertencentes ao absurdo, sobretudo as de Eugène Ionesco, parecem elas próprias atestar. O que propomos aqui, contudo, é pôr em dúvida partes desse senso comum, levantando duas hipóteses complementares: (i) a transgressão das peças teatrais do absurdo, por ser tão restrita à forma, corre o risco de revelar uma esterilidade que, às vezes, se torna quase reacionária; (ii) tal esterilidade se condiciona por uma crise do pensamento filosófico burguês, que embora não tenha nascido do racionalismo iluminista, substituiu, ao longo do século XIX, ideais revolucionários por correntes de pensamento irracionalistas. Escolhemos como objeto de análise duas obras emblemáticas do absurdo, Esperando Godot (En attendant Godot), de Samuel Beckett (1952), e O rinoceronte (Rhinocéros), de Eugène Ionesco (1959), a fim de mostrar em que medida elas são sintomáticas da crise do pensamento burguês, que não atinge, contudo, da mesma maneira todas as artes produzidas naquela mesma época. Ao fim do artigo, contrastamos os textos de Beckett e de Ionesco com a produção de um outro autor, contemporâneo aos dois anteriores: Aimé Césaire, cujo ciclo dramatúrgico sobre o colonialismo (1963-1969) é transgressor tanto na forma quanto no conteúdo.
Descargas
Citas
ALMEIDA, Lilian Pestre de. Le comique et le tragique dans le théâtre d’Aimé Césaire. In: Présence africaine, n. 121/122, p. 180-192, 1982.
ARISTÓTELES. Poética. Tradução Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2015[335 a.C.].
BECKETT, Samuel. Esperando Godot. Tradução Fábio de Souza Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2005[1952]. [Epub].
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. Tradução Sergio Paulo Rouanet. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993[1940].
BERNSTEIN, J. M. The Philosophy of the Novel. Lukács, Marxism, and the Dialectics of Form. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1984.
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução Noémia de Sousa. Lisboa: Sá da Costa Editora, 1977[1955]. [Epub].
CÉSAIRE, Aimé. La tragédie du roi Christophe. Paris: Présence africaine, 1963.
CÉSAIRE, Aimé. Une saison au Congo. Paris: Seuil, 1966.
CÉSAIRE, Aimé. Une tempête. Paris: Points, 1969.
COE, Richard. Ionesco: A Study of his Plays. Abingdon: Routledge, 2023.
COUTINHO, Carlos Nelson. O estruturalismo e a miséria da razão. São Paulo: Expressão popular, 2016[1973].
EAGLETON, Terry. As ilusões do pós-modernismo. Tradução Elizabeth Barbosa. São Paulo: Zahar, 2011[1996]. [Epub].
FOURNIER, Nathalie. Discours secrets, discours surpris, discours équivoques, discours artificieux: Racine et Molière. In: Cahiers du GADGES n. 2, p. 251-272, 2005.
IONESCO, Eugène. O rinoceronte. [Tradução desconhecida]. S.l.: Desvendando Teatro, s.d. Disponível em: <https://programadeleitura.wordpress.com/wp-content/uploads/2013/04/o_rinoceronte_-_eugene_ionesco.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2025.
LUKÁCS, György. A teoria do romance. São Paulo: Editora 34, 2000[1965].
LUKÁCS, György. O romance histórico. São Paulo: Boitempo, 2011[1955].
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2012[1850].
MOLIÈRE. Don Juan. Paris: Gallimard, 2013[1665].
MOLIÈRE. Le Tartuffe. Paris: Gallimard, 2013[1664].
OVÍDIO. Metamorfoses. Tradução Rodrigo Tadeu Gonçalves. São Paulo: Companhia das Letras, 2023[século I].
RACINE, Jean. Britannicus. Paris: Gallimard, 2015[1669].
RACINE, Jean. Phèdre. Paris: Gallimard, 2015[1677].
SHAKESPEARE, William. A tempestade. Tradução José Francisco Botelho. São Paulo: Companhia das Letras, 2022[1611].
Descargas
Publicado
Cómo citar
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Revista Letras Raras

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución-NoComercial 4.0.






