Olhares oblíquos sobre Capitu: uma leitura da subversão exotópica
Resumo
DOI: https://dx.doi.org/10.35572/rlr.v8i1.1139
Olhar o texto literário de um ângulo inaugural é sempre desafiador, para não dizer tentador. Possibilidades infindas de construção de significados insuflam a literatura com o ardor que sempre lhe constituiu a feitura: o de ser um perpétuo retorno a si mesma, desfiando-se com o mesmo fio com que se tece. Sob a insígnia do audiovisual, por sua vez, a literatura se torna ainda mais instigante, ao proporcionar olhares que, em vez de encerrá-la, apontam incansavelmente para outras direções, para outros dizeres. Pensando na potencialidade de (re)leituras que a arte literária sustenta, sobretudo inserida no circuito da adaptação como prática alargadora de seus sentidos, esta estudo se propõe a analisar um recorte da minissérie Capitu (2008), adaptação dirigida por Luiz Fernando Carvalho e baseada no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, com vistas ao conceito de exotopia, cunhado por Mikhail Bakhtin (2011), como desdobramento de olhares a partir de um lugar exterior. Nosso intuito é demonstrar como a linguagem cinematográfica de Carvalho imprime no objeto televisivo a dinâmica exotópica, mas subvertendo-a, criando uma fratura na perspectiva espaço-temporal da narrativa audiovisual. Para isso, debruçamo-nos sobre aparato teórico que versa sobre a essência e o funcionamento da imagem-som (Carrière, 2006; Eisenstein, 2002; Gaudreault; Jost, 2009; Martin, 2005; Xavier, 1983 e 2005; Costa, 2003; Aumont, 2008), o debate sobre questões pertinentes ao âmbito da adaptação (Stam, 2000 e 2008; Hutcheon, 2013), o tema da exotopia bakhtiniana (Bakhtin, 2011; Brait, 2006; Fiorin, 2016), bem como contribuições outras que somam à realização deste estudo.
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Referências
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