Trajetórias específicas de aprendizado de regularidades ortográficas
DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.15612099Palavras-chave:
Regularidades ortográficas, Erros ortográficos, Vogais átonas finais, Róticos finais, Múltiplos padrõesResumo
Este artigo analisou quatro padrões ortográficos regulares: (1a) <e> átono final; (1b) <o> átono final; (2a) <r> em final de infinitivos verbais; (2b) <r> em final de nomes. Os padrões em (1) se assemelham quanto ao contexto acentual: vogais átonas. Os padrões em (2) envolvem a escrita da letra <r> em final de palavras. Foram analisados dados de escrita, de crianças e adolescentes do 1°, 3°, 5° 7° e 9° anos do Ensino Fundamental, de uma escola pública de Belo Horizonte. A hipótese testada foi a seguinte: os índices de erros ortográficos diferem-se significativamente a depender do tipo de padrão ortográfico analisado. Os dados confirmaram a hipótese. Em contexto átono final, os aprendizes cometeram mais erros ortográficos relacionados à letra <e> do que à letra <o>. Em relação à letra <r>, os verbos de infinitivo foram grafados com mais erros ortográficos do que os nomes. Com o apoio da Teoria de Integração dos Múltiplos Padrões – a IMP (Treiman; Kessler, 2014), argumentamos que padrões ortográficos aparentemente semelhantes podem envolver trajetórias específicas de aprendizado. Ou seja, defendemos que o aprendizado da ortografia se dá por múltiplas trajetórias, que só podem ser identificadas a partir de análises contextualizadas, que levam em conta não só as correspondências letra-som, mas também a variabilidade fonética e os aspectos morfológicos que operam por trás de cada padrão. Em suma, propomos que a análise – e o ensino – da ortografia deve ultrapassar a tradicional categorização entre regularidades e irregularidades.
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