Quando os mortos convocam os vivos: a memória como compromisso ético
Résumé
DOI: https://dx.doi.org/10.35572/rlr.v9i2.1744
O texto apresenta uma leitura do romance contemporâneo O espírito dos meus pais continua a subir na chuva (2011), do escritor argentino Patricio Pron, a partir da hipótese de que o narrador-personagem assume um compromisso ético com a geração do pai, que lutou contra a ditadura, e com sua própria geração. A perspectiva adotada estabelece relações entre o conhecer e o narrar, entre a testemunha legítima, mas muda, que é o pai, e a herança que consigna a palavra ao filho, o que exige uma escrita comprometida do herdeiro como manutenção da memória num mundo desencantado. A questão da memória é abordada pela leitura dos principais procedimentos empregados pelo narrador, que envolvem a construção de uma série de paralelismos e a simulação de uma história
policial para representar seu processo de busca pela verdade, que só pode ser atingida pela organização legada pelo pai na forma de um arquivo composto por materiais de textualidades não-literárias e distintas: textos jornalísticos, fotografias, anúncios, anotações. Além da questão da memória, aborda-se o tema da violência no que diz respeito ao crime comum, banal, do tempo presente, articulando-o ao desaparecimento de pessoas durante a ditadura argentina e ao trauma gerado nos sobreviventes. Tal articulação resulta no argumento do narrador de que as duas gerações foram derrotadas, já que as contradições entre permanências e transformações sociais e históricas comprovam a perpetuação do medo como forma de opressão.
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