A tradução como política linguística na colonização da Amazônia brasileira
Abstract
DOI: https://dx.doi.org/10.35572/rlr.v7i2.1126
A diversidade linguística das futuras colônias portuguesas na América do Sul era notável. Segundo especialistas, havia mais de 1.200 línguas indígenas presentes no território do que seria o Brasil no momento do desembarque dos portugueses. Dessas, mais de metade (cerca de 700) seriam faladas na Amazônia, línguas pertencentes a diversas famílias linguísticas não aparentadas. A grande quantidade de línguas diferentes constituía um pesado obstáculo para a conversão dos povos nativos e também para a ocupação e colonização concreta do território pela Coroa portuguesa, também interessada na escravização da força de trabalho indígena. O impasse se resolveu com a adoção de uma língua – o tupinambá – falada num trecho da costa do Pará, próximo à foz do rio Amazonas, a qual se tornou o que veio a se designar como língua geral. O mesmo processo ocorreu na parte sul da América portuguesa, onde emergiu outra língua geral. Durante o período colonial, portanto, houve duas línguas gerais: a língua geral amazônica e a língua geral paulista. Antes que essas línguas gerais se estabelecessem, a tradução e a interpretação tiveram um papel crucial na conquista dos amplos territórios, onde a língua portuguesa era usada apenas por uma pequena minoria, essencialmente europeus e seus descendentes, situação que permaneceu até as primeiras décadas do século XIX.
Downloads
References
ANCHIETA, José de. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do padre José de Anchieta (1554-1594). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras/Civilização Brasileira, 1933.
BARROS, Maria Cândida D. M.. “Notas sobre a política jesuítica da língua geral na Amazônia”. In: FREIRE, José Ribamar; ROSA, Maria Carlota (orgs.). Línguas gerais: política linguística e catequese na América do Sul no período colonial. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2003.
BETTENDORFF, João Felipe. Crônica da missão dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão. 2a. ed., Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves/ Secretaria de Estado da Cultura, [1694-1698], 1990.
DANIEL, João. Tesouro descoberto no rio Amazonas. Rio de Janeiro: Anais da Biblioteca Nacional, 1976
ELIA, Sílvio. A unidade linguística do Brasil. Rio de Janeiro: Padrão, 1979.
FARACO, Carlos Alberto. História sociopolítica da língua portuguesa. São Paulo: Parábola, 2016.
FREIRE, José Ribamar Bessa. Rio Babel. A história das línguas na Amazônia. 2nd. ed. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
HACKEROTT, Maria Mercedes S..“Reflexões sobre a linguagem em sermões e cartas do padre Antônio Vieira”. In: LAGORIO, Consuelo Alfaro; ROSA, Maria Carlota; FREIRE, José Ribamar (orgs.). Políticas de língua no Novo Mundo. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.
HEMMING, John. Ouro vermelho: a conquista dos índios brasileiros. São Paulo: EDUSP, 2007.
MAGALHÃES, J. V. Couto de. O Selvagem. Rio de Janeiro: Typographia da Reforma, 1876.
MARIANI, Bethania. “Quando as línguas eram corpos – sobre a colonização linguística portuguesa na África e no Brasil”. In: ORLANDI, Eni P.. Política linguística no Brasil. Campinas: Pontes Editora, 2007.
METCALF, Alida C.. Go-betweens and the Colonization of Brazil (1500-1600). Austin: Universtiy of Texas Press, 2008.
RODRIGUES, Aryon D.. In: CARDOSO, Susana A. M.; MOTA, Jacyara A.; SILVA, Rosa Virginia Matos (orgs.). “As outras línguas de colonização do Brasil”. In Quinhentos anos de história linguística do Brasil. Salvador: Funcultura, 2006.
RODRIGUES, José Honório. História viva. São Paulo: Global, 1985.
SCHARLAU, Birgit. “Repensar la Colonia, las relaciones interculturales y la traducción”. Iberoamericana III, 12, 2003. p. 97-110.
SILVA NETO, Serafim. Introdução ao estudo da língua portugesa no Brasil. Rio de Janeiro: INL, 1950.
Downloads
Published
How to Cite
Section
License
Copyright (c) 2023 Revista Letras Raras
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.