“Gente, temos um gênio aqui”: a coconstrução da violência linguístico-discursiva em uma interação no Twitter

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.8174625
Palavras-chave: Impolidez, Argumentação, Violência linguístico-discursiva, Interação mediada on-line, Netnografia

Resumo

Neste trabalho, almejamos analisar de que modo dois internautas, a partir de uma postagem do Ministério da Saúde no próprio perfil do Twitter, utilizam, em sua argumentação, estratégias de impolidez na promoção de mútua violência linguístico-discursiva. No âmbito teórico, articulamos os estudos de (im)polidez, inscritos em domínios micro/linguístico, macro/sociodiscursivo e meso/sociointeracional, e os estudos da argumentação, com foco na argumentação erística, dada a sua intrínseca relação com a violência linguístico-discursiva. No âmbito metodológico, optamos por conduzir um estudo netnográfico, inscrito em uma episteme exclusivamente qualitativa, na seleção e na análise de textos relacionados a uma interação mediada on-line no Twitter que tivesse um caráter conflituoso e que discutisse a hidroxicloroquina como estratégia de tratamento precoce no combate ao COVID-19. No âmbito analítico, salientamos que, de modo geral, a impolidez se tornou gradativamente mais intensa entre o internauta e a internauta, instaurando-se uma argumentação erística, permeada por argumentos ad hominem e ad personam, na coconstrução de metapragmáticas de violência linguístico-discursiva. Acreditamos ser salutar que perfis institucionais possam instituir políticas de moderação de tais interlocuções, incentivando diálogos construtivos e agregadores.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rodrigo Albuquerque, Universidade de Brasília

É professor adjunto II no Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) da Universidade de Brasília, credenciado ao Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGL) da mesma instituição.

Ana Luiza Nogueira Sousa, Universidade de Brasília

Possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília (2017). Graduanda em ABI - Letras - Português - Licenciatura pela Universidade de Brasília.

Referências

ALBUQUERQUE, R.; SEARA, I. R.; SANTOS, L. W.; TOMAZI, M. M. Argumentação e impolidez: o post nas instâncias da interação. (Con)Textos Linguísticos, v. 15, n. 31, p. 66-84, 2021.

ANGROSINO, M. Etnografia e Observação Participante. Tradução de José Fonseca. Porto Alegre: Artmed, 2009.

AZEVEDO, I. C. M.; GONÇALVES-SEGUNDO, P. R.; PIRIS, E. L. Argumentação erística nas interações digitais: uma polêmica médica sobre a cloroquina no Debate 360 da CNN Brasil. Rev. Estud. Ling., v. 29, n. 4, p. 2289-2333, 2021.

BENJAMIN, J. Eristic, Dialectic, and Rhetoric. Communication Quartely, v. 31, n. 1, p. 21-26, 1983.

BLITVICH, P. G-C.; SIFIANOU, M. Im/politeness and discursive pragmatics. Journal of Pragmatics, v. 145, p. 91-101, 2019. BRANDÃO, L. V. M. Uma análise sociodiscursiva do sufixo –inho em materiais didáticos: uma contribuição para a constituição de sentidos no ensino de português para estrangeiros. 2010. 124f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade de Brasília, Brasília, 2010.

BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness: some universals in language usage. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

CABRAL, A. L. T. Violência verbal e argumentação nas redes sociais: comentários no Facebook. Calidoscópio, v. 17, n. 3, 416-432, 2019.

CASTILHO, A. T. Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012.

CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: modos de organização. Tradução coordenada por Ângela M. S. Correa e Ida Lúcia Machado. São Paulo: Contexto, 2008.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

CHIZZOTTI, A. A pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais: evolução e desafios. Revista Portuguesa de Educação, v. 16, n. 2, p. 221-236, 2003.

CULPEPER, J. Towards an anatomy of impoliteness. Journal of Pragmatics, v. 25, p. 349-67, 1996.

CULPEPER, J. Politeness and impoliteness. In: AJIMER, K.; ANDERSEN, G. (Eds.). Pragmatics of Society. Berlin: Mouton de Gruyter, 2011. p. 393-438.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Collecting and interpreting qualitative materials. 4th ed. Thousand Oaks, CA: Sage, 2013.

EELEN, G. A Critique of Politeness Theories. Manchester: St. Jerome, 2001.

FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.

GOFFMAN, E. Interaction Ritual: essays on face-to-face behavior. UK: Penguin University Books, 1967. GRAHAM, S. L.; HARDAKER, C. (Im)politeness in Digital Communication. In: CULPEPER, J.; HAUGH, M.; KÁDÁR, D. Z. (Eds.). The Palgrave Handbook of Linguistic (Im)politeness. London: Palgrave Macmillan, 2017. p. 785-814

GRAINGER, K. ‘First order’ and ‘second order’ politeness: Institutional and intercultural contexts. In: LINGUISTIC POLITENESS RESEARCH GROUP (Org.). Discursive approaches to politeness. Walter de Gruyter: Berlin/Boston, 2011. p. 167-188.

HAUGH, M. The discursive challenge to politeness research: An interactional alternative. Journal of Politeness Research, v. 3, n. 2, p. 295-317, 2007.

HAUGH, M.; CULPEPER, J. Integrative pragmatics and (im)politeness theory. In: ILIE, C.; NORRICK, N. R. (Eds.). Pragmatics and its Interfaces. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2018. p. 213-239.

KÁDÁR, D. Z.; HAUGH, M. Understanding Politeness. UK: Cambridge University Press, 2013.

KERBRAT-ORECCHIONI, C. ¿Es universal la cortesía? In: BRAVO, D.; BRIZ, A. (Eds.). Pragmática sociocultural: estudios sobre el discurso de cortesía en español. Barcelona: Ariel, 2004.

KERBRAT-ORECCHIONI, C. Abordagem intercultural da polidez linguística: problemas teóricos e estudos de caso. In: CABRAL, A. L. T.; SEARA, I. R.; GUARANHA, M. F. (Orgs.). Descortesia e cortesia: expressão de culturas. São Paulo: Cortez, 2017.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2016.

KOZINETS, R. V. Netnography: Doing ethnographic research online. London: Sage Publications, 2010.

KOZINETS, R. V. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Porto Alegre: Penso, 2014.

KOZINETS, R. V. Netnography Today: A Call to Envolve, Embrace, Energize, and Electrify. In: KOZINETS, R. V.; GAMBETTI, R. (Eds.). Netnography Unlimited: Understanding Technoculture Using Qualitative Social Media Research. New York/London: Routledge, 2021.

LAKOFF, R. T. The logic of politeness; or, minding your p’s and q’s. In: CORUM, C. et al. (Eds.). Papers from the Ninth Regional Meeting of the Chicago Linguistic Society, p. 292-305, 1973.

LEECH, G. Principles of Pragmatics. London: Longman, 1983.

MASON, J. Qualitative Researching. 2nd ed. London, Thousand Oaks & New Delhi: SAGE, 2002.

MERRIAM, S. B.; TISDELL, E. J. Qualitative Research: A Guide to Design and Implementation. 4th ed. San Francisco: Jossey-Bass, 2016.

MILLS, S. Gender and Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

MOREIRA, V. L.; ROMÃO, L. M. S. O discurso no Twitter, efeitos de extermínio em rede. Revista Rua, v. 2, n. 17, p. 77-97, 2011.

MYERS, G. The Discourse of Blogs and Wikis. New York: Continuum Press, 2010.

PINTO, J. P. É só mimimi? Disputas metapragmáticas em espaços públicos online. Interdisciplinar, v. 31, p. 221-236, 2019.

PLANTIN, C. La argumentación. Tradução de Amparo Tusón Valls. Barcelona: Ariel, 1998 [1996].

PLANTIN, C. A argumentação: história, teorias, perspectivas. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2008.

PRIMO, A. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. E-Compós, v. 9, p. 1-21, 2007.

SANTANA, M. B.; SOUZA, C. G. B. Uso das redes sociais por órgãos públicos no Brasil e possibilidades de contribuição do monitoramento para gestão. Revista Gestão.Org, v. 15, p. 631-639, 2017.

SEARA, I. R. Ligações vertiginosas: violência verbal em ‘comentários’ nas redes sociais. Calidoscópio, v. 19, n. 3, p. 385-397, 2021.

SIGNORINI, I. Metapragmáticas da língua em uso: unidades e níveis de análise. In: SIGNORINI, I. (Org.). Situar a lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008.

SILVERSTEIN, M. Language Structure and Linguistic Ideology. In: CLYNE, P. R.; HANKS, W. F.; HOFBAUER, C. L. (Org.). The Elements: a parasession on linguistic units and levels. Chicago: Chicago Linguistic Society, p. 193-247, 1979.

SILVERSTEIN, M.; URBAN, G. Natural Histories of Discourse. Chicago: University of Chicago Press, 1996.

THOMPSON, J. B. A interação mediada na era digital. Matriz, v. 12, n. 13, p. 17-44, 2018.

TWITTER. Ministério da Saúde. 2020.

VILLEGAS, D. Political Netnography: A Method for Studying Power and Ideology in Social Media. In: KOZINETS, R. V.; GAMBETTI, R. (Eds.). Netnography Unlimited: Understanding Technoculture Using Qualitative Social Media Research. New York/London: Routledge, 2021.

WALTON, D. The New Dialectic: Conversational Contexts of Argument. Toronto: University of Toronto Press, 1998.

WATTS, R. J. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 2009 [2003].

Downloads

Publicado em

12 de outubro de 2022

Como Citar

ALBUQUERQUE, R.; SOUSA, A. L. N. “Gente, temos um gênio aqui”: a coconstrução da violência linguístico-discursiva em uma interação no Twitter. Revista Letras Raras, Campina Grande, v. 11, n. 3, p. 377–404, 2022. DOI: 10.5281/zenodo.8174625. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/897. Acesso em: 21 nov. 2024.

Seção

Artigos