INTERVENÇÃO NO PATRIMÔNIO BRUTALISTA EDIFICADO

FACHADA SUL DO EDIFÍCIO AGOSTINHO VELOSO DA SILVEIRA - FIEPB (1983)

Resumo

O presente trabalho apresenta uma proposta de intervenção projetual na fachada sul do Edifício Agostinho Veloso da Silveira, sede da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEPB), um marco da arquitetura brutalista em Campina Grande, inaugurado em 1983. O desenvolvimento deste projeto insere-se no contexto acadêmico da disciplina de Projeto de Arquitetura V, ministrada pela professora Alcilia Afonso, e que faz parte do projeto pedagógico do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG-  fundamentando-se em um amplo processo de documentação e análise do objeto construído. Ressalta-se que as etapas iniciais de anamnese, levantamento cadastral e diagnóstico do estado de conservação foram realizadas de maneira colaborativa por diversos grupos da turma, abrangendo as dimensões histórica, normativa, formal e tectônica da edificação. No entanto, o recorte específico deste artigo concentra-se exclusivamente na proposição da intervenção para a fachada posterior (Sul), identificada como a área mais crítica em termos de descaracterização visual e integridade física.

O diagnóstico revelou que a pele da fachada do edifício sofreu degradação significativa devido à instalação desordenada de equipamentos de climatização ao longo de quarenta anos. A presença de tubulações expostas e unidades condensadoras, tratadas aqui como "elementos parasitários", rompeu a leitura rítmica dos elementos vazados (cobogós) e do concreto aparente da edificação, gerando poluição visual e riscos de patologias construtivas. O objetivo central da intervenção foi restabelecer a integridade formal da obra sem negar a necessidade funcional dos sistemas de infraestruturas contemporâneos.

A metodologia projetual adotada priorizou a reversibilidade e a distinção clara entre o novo e o antigo. A proposta técnica consiste na ordenação da infraestrutura predial através da inserção de elementos metálicos em aço inoxidável. Foram detalhadas eletrocalhas verticais com furações oblongas para ocultar e conduzir as tubulações, criando um ritmo vertical que dialoga com a estrutura existente. Para os condensadores, projetaram-se suportes e caixilhos metálicos padronizados, que organizam os volumes das máquinas e protegem o sistema, integrando-os harmonicamente à composição da fachada. O projeto contempla ainda o restauro e a reposição dos cobogós cerâmicos danificados ou ausentes. Conclui-se que a intervenção devolve à cidade a integridade e a monumentalidade do edifício FIEP, demonstrando que a atualização de demandas funcionais e técnicas de edifícios patrimoniais pode ocorrer através de soluções de design que organizam, em vez de esconder, as camadas de tempo da edificação.