A ARTE DE ESCULPIR COM BARRO

UM ATELIÊ PARA AS LOICEIRAS DO BAIRRO SÃO JOSÉ, NA CIDADE DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA

Autores

  • Jessyka Alves de Sousa Arquiteta e Urbanista, graduada pelo Centro Universitário Santa Maria - UNIFSM
  • Pablo Ferreira Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Paraíba – UFPB https://orcid.org/0000-0002-5391-7133
Palavras-chave: arquitetura bioclimática, loiceiras, preservação cultural, anteprojeto arquitetônico

Resumo

Este trabalho, desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no curso de Arquitetura e Urbanismo em 2023, propõe a criação de um anteprojeto arquitetônico para um ateliê destinado às loiceiras do Bairro São José, em Cajazeiras, Paraíba. A proposta busca oferecer um espaço apropriado para a produção e exposição de peças artesanais, contribuindo para a preservação e valorização dessa tradição cultural que resiste ao tempo.

A tradição das loiceiras, transmitida por gerações, representa uma prática artesanal com mais de cinco décadas de história, atualmente ameaçada pela falta de condições adequadas para produção e exposição das obras. A figura da Mestra Lourdinha, única artesã ativa na comunidade, reforça a necessidade de medidas urgentes para a preservação desse patrimônio material e imaterial. Assim, o projeto articula a proteção da tradição ceramista e a promoção de práticas arquitetônicas sustentáveis.

A abordagem projetual faz uso do tijolo solo-cimento, material reconhecido por sua sustentabilidade e durabilidade, que estabelece uma conexão entre a arquitetura e as práticas artesanais locais. A escolha do barro como elemento simbólico e material de construção reflete a íntima relação entre natureza, cultura e território, promovendo um diálogo entre espaço e tradição. O ateliê foi concebido não apenas como um local de trabalho, mas como um espaço que celebra a memória cultural e a identidade das loiceiras.

O projeto adota princípios de arquitetura bioclimática, visando adaptar a edificação às condições climáticas da região semiárida. Entre as soluções propostas, destaca-se o uso de ventilação seletiva, por meio de um telhado do tipo “borboleta”, composto por treliças que criam aberturas para o fluxo de ar. Essa configuração favorece a circulação natural do ar e gera uma camada de ar isolante entre a cobertura e o interior, promovendo conforto térmico. Além disso, foram implementadas aberturas superiores ao longo da edificação, utilizando cobogós de tijolo estrategicamente posicionados para canalizar os ventos predominantes e intensificar a ventilação cruzada.

Outros elementos arquitetônicos contribuem para a eficiência do projeto, como os beirais, que garantem sombreamento e proteção solar, e os brises verticais nas fachadas leste e sul, que, além de oferecerem proteção contra a incidência solar direta, agregam valor estético à composição do edifício. Esses dispositivos arquitetônicos demonstram a integração entre funcionalidade e estética, característica essencial ao projeto.

O sistema construtivo foi baseado no uso modular de tijolos ecológicos de solo-cimento, produzidos a partir de solo local, água e cimento, sem necessidade de queima em olarias. Esses tijolos, além de reduzir custos e impactos ambientais, contribuem para a eficiência construtiva, minimizando o desperdício e o tempo de execução da obra. A modularidade do sistema facilita futuras adaptações e ampliações, garantindo flexibilidade ao uso do espaço.

Por meio de um design sensorial que explora a textura dos materiais e remete à ancestralidade, o projeto propõe um ambiente que transcende a função prática, configurando-se como um espaço de memória e celebração cultural. Assim, o ateliê não apenas promove a produção artesanal, mas atua como um marco na preservação do patrimônio cultural e na valorização da identidade local.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Downloads

Publicado em

10 de novembro de 2024

Como Citar

DE SOUSA, J. A.; FERREIRA, P. A ARTE DE ESCULPIR COM BARRO: UM ATELIÊ PARA AS LOICEIRAS DO BAIRRO SÃO JOSÉ, NA CIDADE DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA. Revista Arquitetura e Lugar, Campina Grande, v. 2, n. 7, p. 89–98, 2024. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/arql/article/view/3819. Acesso em: 4 dez. 2024.

Seção

Práticas projetuais