A ARTE DE ESCULPIR COM BARRO
UM ATELIÊ PARA AS LOICEIRAS DO BAIRRO SÃO JOSÉ, NA CIDADE DE CAJAZEIRAS, PARAÍBA
Resumo
Este trabalho, desenvolvido como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no curso de Arquitetura e Urbanismo em 2023, propõe a criação de um anteprojeto arquitetônico para um ateliê destinado às loiceiras do Bairro São José, em Cajazeiras, Paraíba. A proposta busca oferecer um espaço apropriado para a produção e exposição de peças artesanais, contribuindo para a preservação e valorização dessa tradição cultural que resiste ao tempo.
A tradição das loiceiras, transmitida por gerações, representa uma prática artesanal com mais de cinco décadas de história, atualmente ameaçada pela falta de condições adequadas para produção e exposição das obras. A figura da Mestra Lourdinha, única artesã ativa na comunidade, reforça a necessidade de medidas urgentes para a preservação desse patrimônio material e imaterial. Assim, o projeto articula a proteção da tradição ceramista e a promoção de práticas arquitetônicas sustentáveis.
A abordagem projetual faz uso do tijolo solo-cimento, material reconhecido por sua sustentabilidade e durabilidade, que estabelece uma conexão entre a arquitetura e as práticas artesanais locais. A escolha do barro como elemento simbólico e material de construção reflete a íntima relação entre natureza, cultura e território, promovendo um diálogo entre espaço e tradição. O ateliê foi concebido não apenas como um local de trabalho, mas como um espaço que celebra a memória cultural e a identidade das loiceiras.
O projeto adota princípios de arquitetura bioclimática, visando adaptar a edificação às condições climáticas da região semiárida. Entre as soluções propostas, destaca-se o uso de ventilação seletiva, por meio de um telhado do tipo “borboleta”, composto por treliças que criam aberturas para o fluxo de ar. Essa configuração favorece a circulação natural do ar e gera uma camada de ar isolante entre a cobertura e o interior, promovendo conforto térmico. Além disso, foram implementadas aberturas superiores ao longo da edificação, utilizando cobogós de tijolo estrategicamente posicionados para canalizar os ventos predominantes e intensificar a ventilação cruzada.
Outros elementos arquitetônicos contribuem para a eficiência do projeto, como os beirais, que garantem sombreamento e proteção solar, e os brises verticais nas fachadas leste e sul, que, além de oferecerem proteção contra a incidência solar direta, agregam valor estético à composição do edifício. Esses dispositivos arquitetônicos demonstram a integração entre funcionalidade e estética, característica essencial ao projeto.
O sistema construtivo foi baseado no uso modular de tijolos ecológicos de solo-cimento, produzidos a partir de solo local, água e cimento, sem necessidade de queima em olarias. Esses tijolos, além de reduzir custos e impactos ambientais, contribuem para a eficiência construtiva, minimizando o desperdício e o tempo de execução da obra. A modularidade do sistema facilita futuras adaptações e ampliações, garantindo flexibilidade ao uso do espaço.
Por meio de um design sensorial que explora a textura dos materiais e remete à ancestralidade, o projeto propõe um ambiente que transcende a função prática, configurando-se como um espaço de memória e celebração cultural. Assim, o ateliê não apenas promove a produção artesanal, mas atua como um marco na preservação do patrimônio cultural e na valorização da identidade local.
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© 2024 Jessyka Alves de Sousa, Pablo Ferreira
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