PROPOSTAS PARA A NÃO SLOGANIZAÇÃO DO CONCEITO DE TRANSLINGUAGEM

PROPOSALS FOR THE NON-SLOGANIZATION OF THE CONCEPT OF TRANSLANGUAGING

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.14052454
Palavras-chave: translinguagem, Capitalismo acadêmico, Sloganização, Multiculturalismo liberal

Resumo

Na esteira do capitalismo acadêmico, que submete a produção do conhecimento à lógica do Mercado, alguns conceitos têm sido submetidos a um processo de sloganização, que os esvazia de seus sentidos e os reduz a discursos de efeito, com o principal objetivo de seduzirem e promoverem o engajamento. Sendo a translinguagem um conceito crescentemente mobilizado por educadores e pesquisadores que buscam práticas de ensino-aprendizagem de línguas adicionais e políticas linguísticas que se distanciam de perspectivas normatizadoras e assimilacionistas, o presente artigo objetiva alertar para seu risco de sloganização, trazendo quatro propostas para evitá-lo: (i) reconhecer que o conceito de translinguagem não representa uma mudança de paradigma ou uma virada; (ii) não isolar as marcas de translinguagem, sob pena de apagar as práticas sócio-histórico-ideológicas das quais emergem; (iii) observar o funcionamento da translinguagem para além dos elementos fonético-fonológicos e lexicogramaticais mais evidentes; (iv) promover a metarreflexão sobre manifestações translíngues. Concluímos nosso artigo destacando que a primeira proposta advém da percepção de traços de sloganização na própria teorização do conceito e, principalmente, na sua circulação. As demais propostas buscam evitar leituras superficializadas do conceito, num processo de branding acadêmico, que revelam, inclusive, traços do multiculturalismo liberal, criticado por Maher (2007).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BIALYSTOK, E. Does Bilingualism Affect Cognitive and Brain Structures? Facts and Fictions. Conferência apresentada por Ellen Bialystok, 2020. 1 vídeo (1h39min 00s). Publicado pelo canal da Associação Brasileira de Linguística. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c1lvqKb5z3A. Acesso em: 17 jul. 2024.

BIZON, A. C. C.; CAVALCANTI, M. C. Narrating lived experiences from the margins: the voices of two undergraduate students from the Democratic Republic of Congo at a Brazilian University In: CAVALCANTI, M. C.; MAHER, T. J. M. (Orgs.). Multilingual Brazil - Language resources, identities and ideologies in a globalized world. New York and London: Routledge, 2018, v.1, p. 225-240.

BLOMMAERT, J. The sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2010.

BUSCH, B. The linguistic repertoire revisited. Applied Linguistics Advance Access. Oxford, p. 1-22, out. 2012.

CANAGARAJAH, S. The place of World Englishes in composition: pluralization continued. College composition and communication, v. 57, p. 586-619, 2006.

CANAGARAJAH, S. Translingual practice: global English and cosmopolitan relations. Nova York: Routledge, 2013a.

CANAGARAJAH, S. Introduction. In: Literacy as translingual practice: between communities and classrooms. Nova Iorque / Abingdon: Routledge, 2013b, p. 1-10.

CANAGARAJAH, S. Tranlingual practice as spatial repertoires: expanding the paradigm beyond structuralist orientations. Applied Linguistics, v. 39, n.1, p. 31–54, fev. 2017.

CAVALCANTI, M. C. Educação linguística na formação de professores de línguas: intercompreensão e práticas translíngues. In: MOITA LOPES, L. P. (org.) Linguística Aplicada na modernidade recente: festschrift para Antonieta Celani. São Paulo: Parábola, 2013. p. 211-226.

CONSELHO DA EUROPA. Quadro comum europeu de referência para as línguas: aprendizagem, ensino, avaliação. Porto: Edições Asa, 2001. Disponível em: http://area.dge.mec.pt/gramatica/Quadro_Europeu_total.pdf. Acesso em: 10 jun. 2024.

COPE, B.; KALANTZIS, M. (eds.). Multiliteracies: literacy learning and the design of social futures. Londres / Nova Iorque: Routledge, 2000.

CREESE, A.; BLACKLEDGE, A. Translanguaging in the bilingual classroom: a pedagogy for learning and teaching? Modern Language Journal, v. 94, n. 1, p. 103-115, 2010.

DEUS, V. C. “Porque é difícil a gente não conseguir se fazer entender, né?”: narrativas sobre ações de acolhimento a famílias migrates internacionais na educação infantil. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 2024.

FANJUL, A. P. Os gêneros ‘desgenerizados’: discursos na pesquisa sobre espanhol no Brasil. Bakhtiniana: Revista de Estudos do Discurso, v. 7, n. 1, p. 46-67, 1º sem. 2012.

FRAZATTO, B. E. "Ainda não entendo nada e por isso é muito difícil, mas vale a pena, eu acho": internacionalização e políticas de inserção em narrativas de estudantes chineses, japoneses e sul-coreanos em uma universidade brasileira". Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 2023.

GALABUZI, G. Canada's Economic Apartheid. The Social Exclusion of Racialized Groups in the New Century. Toronto: Canadian Scholars’ Press, 2006.

GARCEZ, P. M. Conferência plenária “Português Língua Pluricêntrica, por que isso agora? Uma reflexão sociolinguística crítica”. In: III SINEPLA - Simpósio sobre ensino de Português como Língua Adicional, 17 jun. 2021. Disponível em: https://www.dropbox.com/scl/fi/8g3oqf788q6s6ytorlli7/ConferenciaPlenaria_17_Junho2021.mp4?rlkey=z7p7c6moirfbud676kxy38v8a&e=1&dl=0. Acesso em: 20 jun. 2024.

GARCEZ, P. M. Português pluricêntrico em foco: diálogos com o professor Pedro Garcez em torno da Linguística Aplicada e da Sociolinguística Crítica. [Entrevista concedida à Flora Hauschild Armani e à Marina Bitencourt dos Santos]. Campinas, no prelo.

GARCÍA, O. Bilingual education in the 21st century. A global perspective. Malden: Wiley-Blackwell, 2009.

GARCÍA, O.; SELTZER, K. The translanguaging current in language education. In: KINDENBERG, B. (org.). Flerspråkighet som resurs. Estocolmo: Liber, 2016, p. 19-30. Disponível em: https://www.smakprov.se/smakprov/?l=liber&isbn=9789147122073. Acesso em: 20 jun. 2024.

GUMPERZ, J. Formal and informal standards in Hindi regional language area. In: FERGUSON, C. A.; GUMPERZ, J. (eds). Linguistic Diversity in South Asia, v. III. RCAPF-P, p. 92–118. International Journal of American Linguistics, 26/3, 1960.

GUMPERZ, J. Linguistic and social interaction in two communities. American Anthropologist, v. 66, n. 6, p. 137-153, dez. 1964.

GUMPERZ, J. The speech community. In: International Encyclopedia of the Social Sciences, Macmillan, 381-386. Reimpresso em P. P. Giglioli, ed. (1972), Language and social context. Middlesex: Penguin Books, 1968, p. 219-231.

HORNBERGER, N. Continua of biliteracy: an ecological framework for educational policy, research, and practice in multilingual setting. Clevedon: Multilingual Matters, 2003.

KEATING, M. C. Polycentric or pluricentric? Epistemic traps in sociolinguistic approaches to multilingual Portuguese. In: MAKONI, S.; SEVERO, C.; ABDELHAY, A.; KAIPER-MARQUEZ, A. (eds.) The languaging of higher education in the Global South: de-colonizing the language of scholarship and pedagogy. Nova Iorque/Londres: Routledge, 2022, p. 42-60.

KLEIMAN, A. B.; VIANNA, C. A. D.; SITO, L. S.; VALSECHI, M. C.; GRANDE, P. B. O conceito de letramento na produção científica brasileira: retorno às origens, discussões para o futuro. Trabalhos em Linguística Aplicada, v. 63, n. 1, p. 240-254, jan. 2024.

KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2011.

LANGENHOVE, L.; HARRÉ, R. Introducing positioning theory. In: LANGENHOVE, L.; HARRÉ, R. (Eds.). Positioning theory: moral context of intentional action. Oxford: Blackwell, 1999.

LEROY, H. R. Dos sertões para as fronteiras e das fronteiras para os sertões: por uma travessia translíngue e decolonial no ensino-aprendizagem de língua portuguesa adicional. Foz do Iguaçu: EDUNILA, 2021.

LEVITT, P. Transnational migration: taking stock and future directions. Global Networks, v. 1, n. 3, p. 195–216, 2001.

LEWKOWICZ, I.; CANTARELLI, M.; GRUPO DOCE. Del fragmento a la situación: notas sobre la subjetividad contemporánea. Buenos Aires: Altamira, 2003.

LITTLE, D. Learner autonomy. A theoretical construct and its practical application. Die Neueren Sprachen, v. 93, n. 5, p. 430-442, 1994.

MAHER, T. M. Ser professor sendo índio - questões de linguagem e identidade. 1996. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) ‒ Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996.

MAHER, T. M. A educação do entorno para a interculturalidade e o plurilingüismo. In: KLEIMAN, A. B. e CAVALCANTI, M. C. (orgs.). Lingüística Aplicada: suas faces e interfaces. Campinas: Mercado de Letras, 2007, p. 255-270.

PAVLENKO, A. Superdiversity and why it isn’t: reflections on terminological innovation and academic branding. In: Sloganization in language education discourse: conceptual thinking in the age of academic marketization. Bristol, Blue Ridge Summit: Multilingual Matters, 2019, p. 142-168.

ROJO, R. H. R.; BARBOSA, J. P. Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos. São Paulo: Parábola, 2015

RÖSLER, D. The only turn worth watching in the 20th century is Tina Turner’s: how the sloganization of foreign language research can impede the furthering of knowledge and make life difficult for practitioners. In: Sloganization in language education discourse: conceptual thinking in the age of academic marketization. Bristol, Blue Ridge Summit: Multilingual Matters, 2019, p. 42-56.

RÔVERE, S. D. Migrações haitianas: presença e vivência em Campinas-SP. Tese (Doutorado em Demografia). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, 2024.

SCHMENK, B.; BREIDBACH, S.; KÜSTER, L. Sloganization in language education discourse: introduction. In: Sloganization in language education discourse: conceptual thinking in the age of academic marketization. Bristol, Blue Ridge Summit: Multilingual Matters, 2019, p. 1-18.

SELINKER, L. Interlanguage. International Review of Applied Linguistics, v. 10, n. 3, p. 109-231, ago. 1972.

SELINKER, L. Interlanguage 40 years on: Three themes from here. In: HAN, Z.; TARONE, E. (Org.). Language learning & language teaching. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, v. 39, 2014, p. 221–246.

SIPRIANO, B. F.; GONÇALVES, J. B. C. O conceito de vozes sociais na teoria bakhtiniana. Revista Diálogos. Relendo Bakhtin. v. 5, n. 1, 2017, p. 60-80.

SLAUGHTER, S.; LESLIE, L. (1997) Academic Capitalism: Politics, Policies and the Entrepreneurial University. Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press.

SLAUGHTER, S; LESLIE, L. Expanding and elaborating the concept of Academic Capitalism. Organization, Sage, v. 8, n. 2, 2001.

SLAUGHTER, S.; TAYLOR, B. J. (eds.). Higher education, stratification, and workforce development: competitive advantage in Europe, the US, and Canada. Cham, Suíça: Springer, 2016.

USMANOVA, Z.; AZAMATOV, K. Modern branding: definition, essence, functions. Central Asian Journal of Innovations on tourism management and finance, v. 4, n. 5, p. 133-135, 2023.

VIEBROCK, B. Just a change of prefix? From inter-to transcultural foreign language learning and back. In: Sloganizations in Language Education Discourse Conference. 2014, p. 24.

WEI, L.; HUA, Z. ‘Translanguaging identities and ideologies: Creating transnational space through flexible multilingual practices amongst Chinese university students in the UK. Applied Linguistics, v. 34, p. 516-535, 2013

WELP, A.; GARCÍA, O. A pedagogia translíngue e a elaboração de tarefas na formação integral do educando brasileiro. Ilha do Desterro. Florianópolis, v. 75, n. 1, p. 47-64, jan./abr. 2022.

ZOPPI-FONTANA, M. G; CELADA, M. T. Sujetos desplazados, lenguas en movimiento: identificación y resistencia en procesos de integración regional. Signo y seña. Buenos Aires, n. 20, p. 159-181, jan. 2009.

Publicado em

7 de novembro de 2024

Como Citar

RODRIGUES ALVES DINIZ, L.; ESTEVES DE CAMARGO, H. R.; COSSI BIZON, A. C. PROPOSTAS PARA A NÃO SLOGANIZAÇÃO DO CONCEITO DE TRANSLINGUAGEM: PROPOSALS FOR THE NON-SLOGANIZATION OF THE CONCEPT OF TRANSLANGUAGING. Revista Leia Escola, Campina Grande, v. 24, n. 2, p. 10–35, 2024. DOI: 10.5281/zenodo.14052454. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/leia/article/view/3097. Acesso em: 3 dez. 2024.

Seção

Dossiê