Por uma política linguística nos serviços de saúde: um estudo sociolinguístico do Hospital Regional de Malanje (Angola)

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Palavras-chave: Políticas linguísticas, (In)exclusão, Hospital, Angola

Resumo

DOI: https://dx.doi.org/10.35572/rlr.v9i2.1584

O artigo procura refletir sobre as políticas linguísticas hospitalares em Angola, partindo de um viés das políticas
públicas que podem ser vistas como promotoras da (in)exclusão dos falantes das línguas nacionais que ao
recorrerem os serviços de saúde sentem-se marginalizados e ou estigmatizados ao serem obrigados a falar em
português por se tratar de língua oficial. A maior parte dos médicos não tem domínio das línguas autóctones. Como
metodologia, entrevistou-se cinco idosos que não falam português e que foram atendidos nos serviços hospitalares
de Malanje. Das entrevistas se conclui que as políticas públicas angolanas no campo hospitalar não dão atenção
aos pacientes que não falam português, atitude que exclui para além de prestar mau serviço à esses cidadãos.
Vários documentos oficiais do Ministério da Saúde e Governo não discutem o papel da língua no atendimento e
serviços de saúde. Esta situação promove exclusão e denuncia a necessidade de inclusão de intérpretes ou
tradutores para que haja comunicação plena. A língua de sinais pouco ou nada é considerada nos atendimentos
hospitalares o que é grave se “todos são iguais perante a Constituição e a lei” (REPÚBLICA DE ANGOLA, 2010). A
inserção de intérpretes e ou tradutores em línguas locais reservaria o direito do cidadão expressar-se livremente na
língua que melhor domina o que favoreceria o diálogo orientado nas práticas de cuidados à saúde.

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Biografia do Autor

Ezequiel Pedro José Bernardo, Instituto Superior de Ciências da Educação/ISCEDCabinda/Angola

Mestrado em Sociolinguística, docente assistente do Instituto Superior de Ciências da Educação/ISCEDCabinda/Angola. Chefe de Repartição de Ensino e Investigação em Língua Portuguesa.

Alexandre António Timbane, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP

Pós-Doutor em Estudos Ortográficos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP (2015), Pós-Doutor em Linguística Forense pela Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC (2014), Doutor em Linguística e Língua Portuguesa (2013) pela UNESP, Mestre em Linguística e Literatura moçambicana (2009) pela Universidade Eduardo Mondlane – Moçambique (UEM). É Licenciado e Bacharel em Ensino de Francês como Língua Estrangeira (2005) pela Universidade Pedagógica Moçambique (UP). Professor da UNILAB (Campus dos Malês, BA), membro do Grupo de Pesquisa. África-Brasil: produção de conhecimento, sociedade civil, desenvolvimento e cidadania global.

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Publicado em

24 de setembro de 2023

Como Citar

BERNARDO, E. P. J. .; TIMBANE, A. A. . Por uma política linguística nos serviços de saúde: um estudo sociolinguístico do Hospital Regional de Malanje (Angola). Revista Letras Raras, Campina Grande, v. 9, n. 2, p. Port. 268–290/ Eng. 268, 2023. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/RLR/article/view/1185. Acesso em: 3 jul. 2024.

Seção

Artigos de temas livres