v. 2 n. 12 (2021): Marxismo: Coisa de homem branco? Diálogos e confrontos entre classe, gênero e raça na tradição marxista
O dossiê Marxismo, coisa de homem branco? diálogos e confrontos entre classe, gênero e raça na tradição marxista que apresentamos à Revista Mnemosine foi planejado no âmbito do Grupo de Pesquisas Marxismo e Cultura, criado em 2017 por seu coordenador, Prof. Dr. Maurício Cardoso (DH/FFLCH/USP), em parceria com uma diversidade de pesquisadores e pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, homens cis brancos e negros, mulheres cis negras e brancas, pessoas LGBTQIAP+, intelectuais marxistas ou não, afetados e preocupados com os debates sociais contemporâneos e, em particular, historiográficos, em torno das questões de raça, classe e gênero. Engajados nas reflexões acerca da decolonialidade do saber, do epistemicídio, da necessidade de questionar e transformar a estrutura acadêmico-universitária que, historicamente, prioriza a leitura de textos escritos por homens brancos, em sua maioria, de origem europeia, o dossiê foi arquitetado de forma coletiva a fim de materializar ideias e reflexões antirracistas, antisexistas e anticapitalistas que estavam sendo capilarizadas no interior do grupo de pesquisa. Trata-se de discussões que objetivam "furar a bolha'' do eurocentrismo acadêmico e abrir caminhos para uma epistemologia mais democrática no âmbito das Humanidades, particularmente, do conhecimento histórico. O dossiê pretendeu ainda provocar pesquisadores e pesquisadoras marxistas a atuarem em um debate para o qual nem sempre são convidados/as, uma vez que a associação quase imediata entre marxismo, desigualdade econômica e opressão de classe poucas vezes foi articulada aos debates marcados pela interseccionalidade, sobretudo para refletir também sobre as questões de raça e gênero. Angela Davis fez isso em seu livro Mulheres, raça e classe, publicado originalmente em 1981 nos EUA e, no Brasil, em 2016, na esteira do debate público e acadêmico sobre a necessidade de discutir esses marcadores sociais de forma articulada. Com esse livro, a filósofa negra estadunidense incentivou trabalhos acadêmicos que levassem em conta, nas suas análises, os marcadores de raça, classe e gênero. Afinal, não é possível interpretar uma realidade histórica de maneira universalista, sem considerar as contradições que a perpassam. A categoria interseccionalidade tem focalizado as conexões de diferentes marcadores sociais que muitas vezes foram, e ainda são, invisibilizados. Às desigualdades socioeconômicas e as opressões de classe, somamse as análises sobre gênero e raça como desafios fundamentais tanto no campo das investigações historiográficas, quanto na arena política. As transformações estruturais do sistema capitalista captadas por diferentes autores e autoras apontam pautas de investigação histórica e sociológica sobre a formação e o desenvolvimento da classe trabalhadora (metamorfoseada em precariado), o papel da cultura e da experiência no enfrentamento das classes subalternas diante da opressão e o esgotamento dos modelos clássicos de organização política, especialmente, os partidos e sindicatos. Portanto, este dossiê temático visou reunir artigos que pudessem divulgar pesquisas e reflexões teóricas, cujas discussões girassem em torno das aproximações e dos limites entre o pensamento marxista e diferentes abordagens teóricas sobre classe, gênero, raça, e colonialidade do poder e do saber. Em outras palavras, procuramos criar um espaço de debate que colocasse em diálogo autores, autoras e categorias do marxismo, das teorias feministas, da luta antirracista e das reflexões decoloniais.
Coordenadores do Dossiê:
Michelly Pereira de Sousa Cordão - Universidade Federal de Campina Grande – UFCG
Maurício Cardoso - Universidade de São Paulo - USP