A HEROÍNA ENCRIPTADA: A HERANÇA TRANSGERACIONAL DE ANTÍGONA

Resumo

Este artigo busca analisar a manifestação da maldição transgeracional na figura de Antígona, última descendente dos Labdácidas, através do enfoque psicanalítico da teoria da transgeracionalidade de Abraham e Torok, identificando a caracterização da heroína em puro míasma familiar. Partindo de fragmentos do quarto episódio da tragédia Antígona, de Sófocles, o trabalho examina como a herança psíquica, marcada por crimes, lutos e segredos familiares, perpetua-se nas gerações da linhagem de Édipo e se revela por uma espécie de katábasis trágica de Antígona. A metodologia adotada envolve uma análise socioliterária do termo míasma, que simboliza a contaminação e o legado maldito na tragédia grega, associada a uma leitura psicanalítica da herança transgeracional. O referencial teórico fundamenta-se na teoria da transgeracionalidade, explorando como esses conceitos moldam a narrativa mítica dos Labdácidas e suas implicações psicológicas. Assim, a pesquisa intenta iluminar como a genealogia, que usualmente se concentra nos descendentes masculinos, também afeta profundamente as personagens femininas, em especial Antígona, revelando as dinâmicas de poder, identidade e legado familiar.