O MAR E A BAHIA NA CONSTRUÇÃO DE IDEIAS SOBRE FEITIÇARIA (XVI- XVIII)
Palavras-chave:
Feitiçaria, Inquisição, Bahia, MarResumo
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a mão-de-obra escravizada africana crescia em volume e importância para a economia das grandes praças americanas. O tráfico e os tumbeiros geravam verdadeiras fortunas – e tragédias – e a concentração de homens e mulheres de cor livres e libertos alcançava números impressionantes. A sociedade construída nos trópicos, que tentava espelhar o modelo do Antigo Regime lusitano, empregava elementos de hierarquização social com base na distinção dos indivíduos e do reforço de um ideal de “qualidade”. Aos marginalizados – cristãos-novos, africanos, marranos, indígenas etc –, era lançada uma série de suspeições e máculas como forma de reforçar os instrumentos de distinção. Se a antiga condição gentia, posição jurídica e os defeitos mecânicos atravessavam boa parte dos povos tradicionais e africanos, a suspeita com relação a desvios na fé e emprego de feitiços era mais um dos elementos que buscava marginalizar esses grupos. Desta maneira, mesmo que a Inquisição servisse como filtro capaz de separar aquilo que ela julgava ou não como delito de feitiçaria, o grande guarda-chuva conceitual que o termo se tornou foi capaz de abrigar uma série de práticas que pareciam estranhas ao Tribunal, mas que foram enquadradas como feitiço pelos observadores locais e denunciantes de primeira e segunda ordem – os que viam ou ouviam dizer e os que remetiam as denúncias ao Santo Ofício. O mesmo atlântico que serviu como palco de transformação e alargamento do conceito de feitiçaria empregava-o na construção e reforço das hierarquias das sociedades construídas no mundo colonial.