PRÁXIS DE ESTUDANTES DO PET-SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores

  • Beatriz Araújo Lima UFCG
  • Rebeca Nayelle Bernardo da Silva UFCG
  • Sthefany Santina Silva Santos UFCG
  • Lucas Kerllon Tavares de Pontes UFCG
  • Renata Inácio de Andrade Silva UFCG
  • Isis Giselle Medeiros da Costa UFCG
  • Luana Carla Santana Ribeiro UFCG
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Atenção Básica, Equipe Multiprofissional, Formação Profissional

Resumo

Introdução: O ambiente de ensino em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) oferece um campo privilegiado para o desenvolvimento acadêmico e profissional, permitindo aos alunos vivenciarem na prática os desafios e as complexidades da Atenção Primária à Saúde (APS). Como o primeiro nível de atenção à saúde, a APS caracteriza-se por sua abordagem multidisciplinar e por sua função central no Sistema Único de Saúde (SUS), promovendo o cuidado integral e contínuo à população. Esse contexto, além de educativo, possibilita o desenvolvimento de competências técnicas, éticas e relacionais fundamentais para a formação de futuros profissionais da saúde [1]. O presente relato objetiva descrever de forma reflexiva a experiência vivenciada em uma Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) no município de Cuité, Paraíba, por discentes do Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde). Durante essa imersão, os alunos tiveram a oportunidade de participar ativamente do cotidiano da unidade, acompanhando de perto o funcionamento da equipe multiprofissional, as práticas de cuidado e os desafios enfrentados no atendimento à comunidade. A vivência proporcionou um entendimento prático e crítico sobre a dinâmica da Estratégia de Saúde da Família (ESF), que organiza e orienta a APS [2]. As atividades realizadas englobaram desde o acolhimento e atendimentos individuais até ações coletivas de promoção da saúde e de prevenção de doenças, permitindo que os alunos compreendessem a abrangência e a importância de uma abordagem integral e humanizada. Além disso, a experiência evidenciou a relevância de aliar teoria e prática no processo de formação, possibilitando o aprimoramento de habilidades clínicas, comunicativas e de gestão em saúde [3]. Assim, o objetivo central desta experiência foi proporcionar aos alunos uma vivência prática e reflexiva do cotidiano de uma UBSF, permitindo que compreendessem a realidade do trabalho na APS e desenvolvessem competências essenciais para a atuação como futuros profissionais da saúde. Esse relato busca, portanto, evidenciar a riqueza do aprendizado adquirido e destacar a importância da UBS como espaço de ensino, prática e de transformação social. Metodologia/Desenvolvimento da ação/intervenção: Trata-se de um relato de experiência, de abordagem qualitativa. Durante esse período de imersão na realidade da UBSF Ezequias Venâncio, que ocorreu no período de junho de 2024 a janeiro de 2025, foram realizadas diversas atividades práticas, como a condução de ações educativas em sala de espera, o acompanhamento das consultas de pré-natal e o monitoramento do desenvolvimento infantil, por meio da puericultura, e acompanhamento das demandas espontâneas. Essas experiências permitiram vivenciar de forma ativa o cotidiano da atenção primária, fortalecendo o aprendizado e a compreensão do cuidado integral em saúde. Tais vivências reforçam a importância do conhecimento técnico-científico e multiprofissional, por meio do contato direto com as realidades enfrentadas pela população, que torna possível aplicar na prática conceitos como promoção da saúde, prevenção de doenças e cuidado humanizado. Além disso, o envolvimento em atividades de educação em saúde permite desenvolver habilidades de comunicação e empatia, essenciais para construir uma relação de vínculo e confiança com os usuários de saúde. A observação e a participação nas consultas de pré-natal destacaram a relevância de um acompanhamento contínuo e multidisciplinar na atenção materno-infantil, evidenciando o impacto positivo de uma abordagem preventiva e integrada. Da mesma forma, o monitoramento do desenvolvimento infantil pela puericultura mostrou como o conhecimento detalhado sobre as etapas do crescimento e desenvolvimento humano é fundamental para identificar precocemente possíveis alterações. Assim, experiências como essas reafirmam a relevância dos cursos e treinamentos na área da saúde, que não apenas fornecem ferramentas técnicas, mas também fomentam uma visão holística e sensível às necessidades do indivíduo, da família e da comunidade. Elas permitem que futuros profissionais adquiram competências práticas indispensáveis ​​para o fortalecimento da atenção primária, pilar essencial no cuidado à saúde da população. Resultados observados: Durante o tempo de integração à realidade da UBSF Ezequias Venâncio, foi possível observar o impacto positivo da integração entre teoria e prática no desenvolvimento de habilidades técnicas, comunicativas e interpessoais dos estudantes. O envolvimento em atividades como a atenção à saúde da mulher e da criança, proporcionou oportunidades para treinar não apenas a capacidade de comunicação, mas também a empatia e o acolhimento, elementos essenciais para estabelecer um vínculo de confiança com as gestantes ou mães, seus parceiros e filhos. Por meio de orientações nas consultas de pré-natal e realização de testes rápidos de infecções sexualmente transmissíveis, foi possível promover uma conscientização mais ampla sobre os cuidados durante a gestação e saúde no geral. Na puericultura, a interação com as crianças e seus responsáveis ​​destacou o valor de uma abordagem humanizada e detalhista no acompanhamento do desenvolvimento infantil. O contato direto com os cuidadores não só trouxe uma compreensão mais profunda das necessidades e expectativas das famílias, mas também revelou a importância de abordar temas delicados, como hábitos de saúde e alimentação, de forma acessível e respeitosa. Essas conversas reforçaram a relevância do olhar atento do profissional em identificar precocemente alterações no desenvolvimento e oferecer a orientação necessária. As atividades realizadas na sala de espera permitiram uma aproximação significativa com a comunidade, criando um ambiente propício para a troca de informações e a educação popular em saúde. Essas interações foram momentos importantes para a prática da escuta ativa, um componente essencial para entender as reais necessidades dos usuários, dúvidas específicas e fortalecer o protagonismo da comunidade na promoção da saúde.  O acompanhamento das demandas espontâneas na UBSF ofereceu uma visão prática e detalhada sobre o funcionamento do serviço, desde o acolhimento inicial até a resolução dos casos. Essa experiência possibilitou vivenciar a complexidade do trabalho em equipe multiprofissional, evidenciando a importância de uma comunicação clara e integrada entre os profissionais para garantir um atendimento eficiente e resolutivo. Além disso, a observação dos fluxos de atendimento e da gestão de casos revelou como uma organização eficiente é crucial para a otimização dos recursos disponíveis e para garantir que as necessidades dos pacientes sejam atendidas de maneira ágil e qualificada. Essa vivência não apenas consolidou os conhecimentos adquiridos ao longo da formação teórica, mas também reforçou a importância de atuar com ética, sensibilidade e compromisso com a saúde. A interação com diferentes grupos da comunidade e a troca de experiências com a equipe da UBSF ampliaram a compreensão do cuidado integral e humanizado com qualidade. Discussões com a literatura pertinente: A experiência vivenciada na UBSF reforçou, na prática, a importância dos princípios norteadores da APS, conforme estabelecidos por Starfield (2002) [2]. Elementos fundamentais, como o acesso de primeiro contato, a longitudinalidade, a integralidade, a coordenação do cuidado, o enfoque familiar e a orientação comunitária, foram identificados nas ações realizadas, evidenciando sua relevância na organização dos serviços e na promoção da saúde. As atividades educativas desenvolvidas em sala de espera corroboram a literatura que destaca a educação em saúde como uma ferramenta essencial para fortalecer o autocuidado e a autonomia dos usuários, conforme Oliveira e Pinheiro (2021) [4]. Por meio de conversas e escuta ativa, os estudantes conseguiram estabelecer um diálogo próximo com a comunidade, integrando informações técnicas às necessidades específicas de cada grupo, o que é considerado crucial para a eficácia das intervenções em saúde coletiva. Durante o acompanhamento de consultas de pré-natal, destacou-se a relevância do vínculo entre profissionais e gestantes, frequentemente citado na literatura como fator decisivo para a redução de complicações gestacionais, de acordo com Costa e Freitas (2020) [5]. Essa vivência permitiu aos alunos compreender o cuidado materno-fetal de forma ampla, enfatizando a importância de intervenções contínuas e humanizadas para garantir a saúde de mães e bebês. A puericultura, por sua vez, evidenciou o papel indispensável do acompanhamento sistemático no crescimento e desenvolvimento infantil. Estudos indicam que essa prática é essencial para a identificação precoce de alterações no desenvolvimento e para a orientação das famílias sobre cuidados adequados à infância, conforme Silva et al., (2022) [6]. O contato direto com as famílias durante essas atividades destacou a relevância de uma abordagem integral e da criação de vínculos sólidos entre profissionais de saúde e cuidadores. O envolvimento nas demandas espontâneas e a observação do funcionamento da UBSF também ressaltaram a importância de equipes multiprofissionais bem coordenadas e organizadas, conforme descrito por Mendes (2018) [7], na gestão do cuidado na APS. Essa vivência ampliou a compreensão sobre os desafios enfrentados no atendimento a diferentes demandas em um contexto de recursos limitados, sublinhando a necessidade de eficiência e integração na prestação de serviços. Assim, a experiência prática na UBSF dialogou diretamente com a literatura, demonstrando que a articulação entre teoria e prática é indispensável para formar profissionais de saúde aptos a enfrentar os desafios do SUS, garantindo um cuidado integral, humanizado e de qualidade. Considerações finais: A imersão na UBSF Ezequias Venâncio proporcionou uma compreensão prática dos desafios, da organização e das atividades realizadas na Atenção Primária, destacando-se como um espaço privilegiado para o aprendizado e desenvolvimento de competências essenciais para a prática assistencial no SUS. A vivência em atividades como o acompanhamento de pré-natal, puericultura e ações educativas, permitiu a integração da teoria com a prática, fortalecendo habilidades clínicas e comunicativas essenciais, de forma a complementar o conhecimento dos estudantes sobre os assuntos e possibilitando obter novas experiências junto à equipe e aos usuários. Além disso, ampliou as perspectivas sobre o funcionamento do sistema de saúde, enfatizando a importância de atuar de forma coordenada e estratégica na promoção, prevenção e tratamento das condições de saúde da população. Observou-se a importância da abordagem integral e humanizada no cuidado à saúde, destacando-se o vínculo com a comunidade e a atuação contínua dos profissionais. A experiência também evidenciou a importância de uma gestão eficiente e da coordenação da equipe para garantir a qualidade do atendimento. Essa vivência reforçou o papel fundamental da UBSF como um espaço não apenas de assistência, mas também de formação de profissionais de saúde. O ambiente dinâmico e desafiador possibilita aos estudantes o desenvolvimento de habilidades técnicas, éticas e interpessoais, fundamentais para o exercício de uma prática profissional comprometida com os princípios do SUS. Dessa forma, a imersão contribuiu significativamente para a formação dos estudantes que fazem parte do PET-Saúde Equidade.

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Referências

TOASSI, R. F. C. et al. Ensino da graduação em cenários da atenção primária: espaço para aprendizagem interprofissional. Trabalho, Educação e Saúde, v. 18, n. 2, p. e 0026798, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tes/a/QsJJqQrDcq5cvqtGz4vhgNb/abstract/?lang=pt: Acesso em: 10 jan. 2025.

STARFIELD, B. Atenção primária e sua relação com a saúde. Starfield, B. Atenção Primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia, p. 19-42, 2002. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_primaria_p1.pdf: Acesso em: 10 jan. 2025.

SANCHEZ, T. H. B.; FRAIZ, I. C. Ética médica e formação do médico. Revista Bioética, v. 30, n. 2, p. 284–299, abr. 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bioet/a/nHZJ39YB6XHqvFHRFzvwtbQ/?format=pdf. Acesso em: 12 jan. 2025.

OLIVEIRA, M. D.; PINHEIRO, P. S. Educação em saúde como ferramenta para o fortalecimento do autocuidado e da autonomia dos usuários. Revista de Saúde Coletiva, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/kCNFQy5zkw4k6ZT9C3VntDm. Acesso em: 12 jan. 2025.

COSTA, A. L.; FREITAS, R. L. A importância do vínculo entre profissionais de saúde e gestantes na redução de complicações gestacionais. Revista Brasileira de Saúde Pública, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/hR4MwpCd88cvTfs9ksLJGFs. Acesso em: 12 jan. 2025.

SILVA, J. F.; OLIVEIRA, D. G.; LIMA, R. R. Puericultura: a importância do acompanhamento contínuo no desenvolvimento infantil. Jornal Brasileiro de Pediatria, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/9R7dvgqFQNQLHtndgLjDYDS. Acesso em: 12 jan. 2025.

MENDES, E. V. A gestão do cuidado na Atenção Primária à Saúde: desafios e oportunidades. Cadernos de Saúde Pública, 2018. Disponível em: https://www.pimentacultural.com/wp-content/uploads/2024/04/eBook_gestao-cuidado.pdf. Acesso em: 12 jan. 2025.

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Publicado em

4 de abril de 2025

Como Citar

LIMA, B.; SILVA, R.; SANTOS, S.; PONTES, L.; SILVA, R.; COSTA, I.; SANTANA RIBEIRO, L. C. PRÁXIS DE ESTUDANTES DO PET-SAÚDE NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA. Caderno Impacto em Extensão, Campina Grande, v. 6, n. 3, 2025. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/cite/article/view/6292. Acesso em: 18 abr. 2025.

Seção

Educação Permanente em Saúde/ Educação em saúde com temas/metodologias variadas/ Intersetorialidade e o PET-Saúde; Trabalho e Formação em saúde

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