GEOGRAFIA E SAÚDE: O PAPEL DO MAPEAMENTO TERRITORIAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Autores

  • Esmeralda da Silva Timoteo UFCG
  • Wellington Gomes de Lima UFCG
  • Sabrina Vitória Rodrigues Silva UFCG
  • Ewerlane Sobral Moreira UFCG
  • Janaína Araújo Batista UFCG
  • Andrezza Duarte Farias UFCG
Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde, Territorialização, Mapeamento geográfico

Resumo

Introdução:

A territorialização configura-se como uma estratégia central no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), desempenhando papel crucial no planejamento e na organização das ações e serviços ofertados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Nesse contexto, a saúde está diretamente relacionada com o território, fortalecendo e garantindo maior acessibilidade e proximidade dos serviços de saúde com a população [1]. A territorialização é um conceito fundamental para entender como os espaços geográficos são organizados, ocupados e vivenciados pelas sociedades, em que vai muito além de simplesmente delimitar um espaço, mas também a construção de significados, práticas e relações sociais que o moldam ao longo do tempo. Esse processo envolve a identificação e análise do território, considerando fatores sociais, econômicos, culturais e epidemiológicos que influenciam a saúde da população. Com objetivo de explorar aspectos compreendendo uma visão ampla sobre como os indivíduos e grupos interagem com os espaços em que vivem[2]. A territorialização é uma ferramenta estratégica para enfrentar as desigualdades sociais, contribuindo para a organização mais eficiente dos serviços de saúde. Sua aplicação permite identificar as especificidades de cada território, favorecendo a personalização das ações de saúde, de acordo com as demandas e vulnerabilidades locais. Essa abordagem é fundamental para a promoção da equidade em saúde, uma vez que reconhece e busca reduzir as disparidades regionais e sociais no acesso aos serviços [3].

Metodologia/Desenvolvimento da ação/intervenção:

A metodologia adotada para a territorialização da UBS Diomedes Lucas de Carvalho, em Cuité, Paraíba, foi baseada em uma abordagem prática e acessível, utilizando o Google Maps no celular para mapear as áreas de atendimento. Esse processo começou com a identificação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) responsáveis por diferentes microáreas na comunidade. Com o auxílio do Google Maps, foi possível traçar as delimitações geográficas de cada área e observar as características específicas de cada território, como o número de residências, a densidade populacional e os acessos aos principais serviços de saúde e equipamentos sociais. Os ACS participaram ativamente desse mapeamento, fornecendo informações sobre a população local, incluindo dados socioeconômicos e aspectos de saúde. Cada ACS percorreu sua microárea, registrando pontos de interesse, como residências, escolas, unidades de saúde e outros locais relevantes, além de anotar informações sobre a saúde da população, como a prevalência de doenças e as necessidades específicas de cuidados. Isso possibilitou uma visualização clara e dinâmica do território, o que facilita o planejamento das ações de saúde, ajustando as intervenções de acordo com as particularidades de cada microárea.

Resultados observados:  

A Unidade Básica de Saúde -UBS Diomedes Lucas Carvalho, onde o trabalho foi desenvolvido, fica na Cidade de Cuité, no estado da Paraíba. Ela conta com uma equipe de 15 profissionais, sendo: 08 (oito) agentes comunitários de saúde (ACS), 01 (uma) recepcionista, 01 (uma) técnica em enfermagem, 01 (uma) enfermeira, 01 (uma) técnica em saúde bucal, 01 (uma) dentista, 01 (uma) médica e 01 (uma) auxiliar de serviços gerais. O Grupo de Apoio Tutorial (GAT) do PET-Equidade possui uma equipe de 06 (seis) pessoas, sendo 04 (quatro) estudantes e 01(uma) professora e a enfermeira da UBS. A Unidade presta atendimento para 1.434 famílias, sendo um total de 3.614 assistidos. O trabalho de territorialização, mostrou ser um importante instrumento de reconhecimento da área de atuação da unidade Diomedes, pois apesar de já haver um outro mapa territorial, o mesmo estava desatualizado e possuía inconsistências em sua estrutura, como foi mostrado pelos próprios ACS. Vale salientar que o presente trabalho de territorialização ainda está incompleto, faltando duas micro-áreas a serem visitadas e adicionadas ao mapa de georreferenciamento, porém com todos os dados epidemiológicos informados pelos demais ACS. Em relação à distribuição de usuários, é possível verificar conforme a QUADRO 1, que há predomínio de pessoas do sexo feminino com 1.724 no total. Foi identificado uma parcela de idosos acima de 60 anos de idade, sendo contabilizado 720 no total. Com relação a problemas de saúde, revelou-se que a Hipertensão Arterial Sistêmica lidera com 542 pessoas, seguidos de 244 indivíduos com Diabetes Mellitus, dos quais 25 insulínicos. É possível verificar também 71 pessoas PcD e um número considerável de pessoas com algum problema de saúde mental, somando 55 pessoas.  Durante as visitas de campo e reconhecimento das micro-áreas, foram georreferenciados alguns equipamentos sociais ofertados à população, sendo a micro-área 01, onde a UBSF está localizada, com maior oferta.  Nesta área, é possível identificar a presença do: CAPS, creches, restaurantes, igrejas, comércio, casa de acolhimento ao idoso e escolas, além uma praça pública, para a práticas de esportes e lazer (FIGURA 1). Nas outras microáreas esses tipos de ofertas não são tão abundantes quanto na microárea 1. Em relação à renda, predominam famílias de baixa renda contempladas pelo Bolsa Família ofertado pelo governo federal, seguidas de assalariados. Uma preocupação bastante citada pelos ACS, é a presença de tráfico de drogas e o aumento do consumo entre a população, principalmente na parte do território situado na área urbana. Para a conclusão do trabalho, alguns desafios tiveram que ser superados, dentre eles, no período em que a equipe começou a desenvolver o trabalho, alguns dos ACS estavam de férias e outros ainda iam entrar de férias, o que atrasou em parte a conclusão.

Discussões com a literatura pertinente:    

Para SANTOS (2005) [4], o território usado são objetos e ações, é um espaço fluído e dinâmico, onde diversas interações acontecem, essas interações moldam o presente e constroem o futuro. Diante disso, é de suma importância o conhecimento dessa dinâmica e fluidez, para que de acordo com a observação e compreensão das individualidades, sejam encontradas as necessidades do território, com isso, a oferta de serviços de saúde e outros, sejam abordados de forma objetiva de acordo com suas peculiaridades. A territorialização em saúde é o método usado para o reconhecimento e necessidades do território em que as equipes de saúde vão atuar, pode ser entendido como uma técnica para que as equipes de saúde possam conhecer e verificar a situação de vida e saúde de um determinado território, assim a ações serão voltadas para a realidade deste local [4].

Considerações finais:      

Fica evidente que o processo de territorialização, não só ajuda a equipes de saúde no desenvolvimento de suas ações, mas beneficia diretamente todo o território, pois, a partir do levantamento dos dados de saúde é possível identificar outros tipos de problemas no território, como ofertas de educação, lazer, infraestrutura e demais serviços necessários para o funcionamento da comunidade.

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Referências

FARIA, R. M. de. A territorialização da atenção primária à saúde no Sistema Único de Saúde e a construção de uma perspectiva de adequação dos serviços aos perfis do território. Hygeia, Uberlândia, v. 9, n. 16, p. 131-147, 2013. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/view/19501/12458

FARIA, R M de. A territorialização da Atenção Básica à Saúde do Sistema Único de Saúde do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 25, n. 11,, nov. 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/jSZ7b65YpPSTwLfYWpRhg5z/?format=pdf&lang=pt

PESSOA, V. M.; RIGOTTO, R. M.; CARNEIRO, F. F.; TEIXEIRA, A. C. A. Sentidos e métodos de territorialização na atenção primária à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, n. 11, p. 2253-2262, 2013. https://www.scielo.br/j/csc/a/mHwc3y7WHkVF6tGb7k8JS3J/?format=pdf&lang=pt

SANTOS, M. O retorno do território. En: OSAL : Observatorio Social de América Latina. Año 6 no. 16 (jun. 2005- ). Buenos Aires : CLACSO, 2005. – ISSN 1515-3282 Disponível em:http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/osal/osal16/D16Santos.pdf. acesso em: 13/01/2025.

COLUSSI, C; PEREIRA, K. Territorialização como instrumento do planejamento local na atenção básica. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2016. p: 29. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/13957/1/TERRITORIALIZACAO_LIVRO.pdf acesso em: 13/01/2025.

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Publicado em

4 de abril de 2025

Como Citar

TIMOTEO, E.; LIMA, W.; SILVA, S. .; MOREIRA, E.; BATISTA, J.; FARIAS, A. D. . GEOGRAFIA E SAÚDE: O PAPEL DO MAPEAMENTO TERRITORIAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA. Caderno Impacto em Extensão, Campina Grande, v. 6, n. 3, 2025. Disponível em: https://revistas.editora.ufcg.edu.br/index.php/cite/article/view/6307. Acesso em: 18 abr. 2025.

Seção

Territorialização e mapeamento de territórios em saúde/ Violências e Saúde Mental

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