O PRECONCEITO CULTURAL NO PROCESSO DE EXCLUSÃO SOCIAL: O PAPEL DAS PERCEPÇÕES DE JUSTIÇA
Resumo
O preconceito cultural pode ser entendido como uma não-responsabilização individual pela diferenciação intergrupal em situação de conflito. Ao questionar ‘como o brasileiro pensa sobre os grupos-alvo’, as pessoas podem se sentir menos responsabilizadas pela expressão do preconceito e livres da norma do anti-preconceito. Assim, objetivou-se analisar o papel das percepções de justiça na relação entre o preconceito cultural e a discriminação contra grupos étnicos e minoritários no Brasil. Especificamente, objetivou-se (1) verificar se a manipulação do preconceito cultural afeta a percepção de justiça; (2) analisar o impacto dessas percepções no suporte a políticas discriminatórias; e (3) investigar a relação entre as percepções de justiça e as atitudes de preconceito e exclusão social. Foi realizada uma pesquisa quantitativa, experimental, com aplicação em questionário online, via Google Forms. A manipulação do preconceito cultural aconteceu a partir de duas condições experimentais: condição controle (concordância enquanto indivíduo) e condição experimental (concordância enquanto sociedade brasileira). As respostas às escalas de escopo de justiça (dois fatores), CMJ geral, Suporte a Políticas Discriminatórias (SPD) foram analisadas, além das questões sociodemográficas. Foram realizadas análises descritiva, fatorial e inferencial (Teste-t para amostras independentes) dos dados por meio do software SPSS. Participaram do estudo 100 brasileiros, com idades entre 18 a 54 anos (M= 26,13; DP=9,24), predominantemente feminina, onde 46% se declararam brancos e 44% pardos. Estes foram alocados randomicamente em uma das duas condições, sendo 50 participantes para cada. Os resultados demonstraram que as médias das variáveis fator II de escopo de justiça, CMJ e SPD foram significativamente mais altas na condição experimental do que na condição controle. Isto é, a manipulação do preconceito cultural ativou uma maior restrição do escopo de justiça (apenas fator II), maior concordância com CMJ e com o SPD. A eficácia da manipulação experimental foi constatada através da verificação da manipulação pelas respostas à escala de preconceito. Neste sentido, verificou-se que o preconceito cultural afetou as percepções de justiça para uma perspectiva excludente, assim como uma maior intenção em acreditar que o mundo é justo, além de um maior suporte às políticas discriminatórias contra os grupos-alvo. Em suma, estes resultados apresentam a pactuação das percepções de justiça em prol da legitimação da exclusão social sobre esses grupos através da não-responsabilização dos brasileiros frente ao preconceito cultural.