SOFRIMENTO E ADOECIMENTO PSÍQUICO ENTRE ACADÊMICOS DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG

Resumo

Este estudo buscou compreender o processo de sofrimento e adoecimento psíquico entre acadêmicos de medicina de uma universidade federal do Nordeste brasileiro. Quanto ao método, trata-se de um estudo transversal qualitativo, combinando-se questionários sociodemográficos e entrevistas semiestruturadas individuais. Para a análise dos dados, optou-se pela análise de conteúdo temática. Participaram deste estudo 33 acadêmicos do curso de medicina, de ambos os sexos, com idades variando de 20 a 37 anos, sendo 12 estudantes do ciclo básico, 12 do ciclo clínico e nove do internato da referida instituição. Verificou-se que fatores como desconexão percebida entre disciplinas dos ciclos formativos, falta de vivência com pacientes nos períodos iniciais do curso, sobrecarga de demandas, competitividade por desempenho, naturalização do sofrimento e condições estruturais inadequadas tornam a experiência acadêmica consideravelmente desgastante para os alunos. Constatou-se que posturas autoritárias, insensíveis e hostis de alguns professores são vistas como uma fonte de sofrimento e um fator predisponente ao adoecimento mental dos estudantes, sobretudo em um ambiente hierarquizado e permissivo aos constrangimentos. Identificou-se, também, que 21 dos 33 participantes possuem diagnóstico de depressão e/ou transtorno de ansiedade e que, para evitarem resvalar ainda mais no terreno do adoecimento psíquico, os estudantes mobilizam estratégias defensivas individuais e coletivas que desempenham um papel crucial na mitigação do sofrimento. Conclui-se que este estudo evidenciou como a desgastante rotina acadêmica predispõe os estudantes de medicina ao sofrimento, ao adoecimento mental e à perda da qualidade de vida. Espera-se que as informações aqui reunidas possam subsidiar discussões e planejamentos institucionais que favoreçam vivências mais positivas no ambiente acadêmico.